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Lombalgia na Gravidez

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Tiago Monteiro, Osteopata Especialista em Osteopatia Pediátrica e FisioterapeutaTiago Monteiro, Osteopata Especialista em Osteopatia Pediátrica e Fisioterapeuta


Frequentemente recorrem à consulta de Osteopatia ou Fisioterapia mulheres grávidas com “lombalgias”.


Afinal, o que é uma lombalgia?

Por definição, lombalgia é, simplesmente, uma dor que ocorre na região lombar - este termo, por si só, não é um diagnóstico. A dor lombar pode ter diversas etiologias, e só um diagnóstico exaustivo e correto nos poderá permitir identificar a causa e tratá-la.

Uma ciatalgia já pode ser considerada um diagnóstico, uma vez que estamos a identificar o nervo ciático como causa da dor, que por sua vez poderá causar dor lombar - lombalgia.

A lombalgia constitui um fenómeno bastante frequente na gravidez, e quase todos os estudos realizados chegaram à mesma conclusão: aproximadamente 50% de todas as mulheres grávidas sofrem com dores nas costas e/ou pélvis em algum momento da gravidez.

Mas quando falamos da lombalgia na grávida, temos que ter em conta uma série de fatores e alterações inerentes a esta condição, que poderão propiciar o surgimento dos sintomas de dor lombar:


Alterações fisiológicas decorrentes do processo normal da gravidez

Das alterações físicas decorrentes da gravidez, as mais óbvias são o aumento do perímetro abdominal e o aumento de peso corporal, sendo este último resultado do aumento da gordura corporal, do crescimento mamário e uterino, do aumento de volume sanguíneo e fluídos extracelulares. Adicionalmente, o peso do Feto, o líquido amniótico e a placenta também contribuem para o aumento de peso da grávida.

Durante a gravidez, o útero sofre um aumento de 20 vezes o seu peso e tamanho, sensivelmente de 50g para 1100g, de 7cm para 30cm de comprimento e a sua cavidade expande-se de cerca de 4ml iniciais para 4000ml nas 40 semanas de gravidez.

Devido ao aumento do útero e ao crescimento do feto, a pélvis assume um novo ângulo para suportar o peso e volume do bebé em crescimento. O centro de gravidade do corpo da mulher desloca-se para a frente e ocorre uma mutação do sacro. Normalmente, a coluna lombar adapta-se para uma postura lordótica aumentada (aumento acentuado da curvatura fisiológica da coluna).

Durante a gravidez, as alterações a nível hormonal causam algumas mudanças em diferentes estruturas do corpo. Uma das mudanças mais evidentes, que acontece por volta da 10ª semana de gravidez, é o aumento da mobilidade das articulações, nomeadamente das articulações sacro ilíacas e sínfise púbica.

Outra alteração importante de notar durante a gravidez, e também relacionada com as alterações hormonais e o aumento dos níveis de progesterona em circulação, ocorre no sistema respiratório. Verificam-se adaptações significativas na configuração mecânica da caixa torácica: o nível do diafragma sobe, o ângulo intercostal aumenta e a respiração tende a ser mais diafragmática e menos costal.


A Osteopatia e o tratamento da Lombalgia na Gravidez

A Osteopatia baseia-se em 2 ciências fundamentais: Anatomia (estrutura) e Fisiologia (função). É esta dicotomia Estrutura-Função que está na base do raciocínio clínico da Osteopatia. Se uma estrutura não estiver sã, não poderá desempenhar a sua função corretamente. Inversamente, se uma determinada função não for realizada corretamente pelo nosso corpo, a estrutura poderá padecer.

A Osteopatia consiste na utilização de técnicas de terapia manual para reduzir a tensão nas estruturas miofasciais, articulações e ligamentos. Desta forma, consegue normalizar a estrutura, corrigindo eventuais restrições de movimento, para que a função possa ser realizada sem limitações ou dor. Muitos são os estudos que apontam a Osteopatia como uma técnica de eleição para o tratamento sintomático da lombalgia e resolução das suas causas.

No caso da grávida, uma das grandes vantagens da Osteopatia (quando realizada por um profissional qualificado), reside no facto de se utilizarem apenas técnicas manuais, que não são contraindicadas na gravidez.

Efetivamente, a Osteopatia surge, por vezes, associada a um tipo de terapia “agressiva” e perigosa, mas tal não é verdade, uma vez que a panóplia de técnicas que se utilizam é imensa, e são sempre adaptadas às limitações de cada paciente. No caso em concreto da grávida, teremos que ser, obviamente, ainda mais cautelosos de forma a não colocar em risco a mulher ou o feto. Há técnicas que não poderão ser feitas em determinado tempo de gestação, mas muitas outras que podem ser selecionadas e que são seguras para o alívio da lombalgia na grávida, reduzindo também a necessidade de uso de medicação.

Para além do tratamento efetuado no consultório, o Osteopata poderá recomendar a realização de exercícios posturais e alongamentos para a grávida realizar em casa. A prática de exercício físico regular, adaptado e bem orientado, constitui um fator fundamental para uma gravidez sem intercorrências! Pessoalmente, considero o Pilates um exercício físico de eleição para a mulher grávida.

Assim sendo, não hesite em consultar um Osteopata (devidamente credenciado), no caso de sofrer de dor lombar - lombalgia - durante a sua gravidez!




Artigo originalmente publicado na quarta edição da Revista De Mãe para Mãe, em julho de 2020.