Susana Lopes, Professora de Yoga e fundadora do projeto "Gravidez sem stress"
A maioria das mulheres grávidas sabe que deve comer saudavelmente, parar de fumar e evitar o álcool, mas muitas futuras-mamãs não estão informadas relativamente ao impacto do stress - que tem perigos específicos para o bem-estar físico e emocional - tanto da mãe como do bebé, durante a gravidez.
Todos sofremos de stress de uma maneira ou de outra, e o stress durante a gravidez é comum – aliás, a própria gravidez pode incitar, por si só, algum tipo de stress, não só quando se trata de uma gravidez não planeada, mas também porque qualquer gravidez requer várias mudanças e traz novas preocupações.
Hoje sabemos que altos níveis de stress causam problemas de saúde, tais como tensão alta e doenças cardíacas, mas também sabemos que, quando uma mulher está grávida e sob stress durante um longo período de tempo, este pode prejudicar a sua saúde e influenciar o desenvolvimento do bebé.
O que é, realmente, o stress?
O stress é a reação do corpo a um desafio ou demanda, e é caracterizado por ser um sistema de alarme biológico forte, rápido e complexo, que vai aumentar a frequência cardíaca, a pressão arterial e a afluência de substâncias no organismo (como a adrenalina e o cortisol), que, em grandes quantidades, são nocivas para o organismo da mãe e do bebé.
Por outro lado, o stress também influencia as regiões do cérebro que controlam o humor, e a mãe pode sentir uma tendência para o medo, ansiedade, depressão, com pensamentos e emoções que fazem com que se sinta frustrada, irritada, nervosa, com uma sensação geral de tensão física e emocional.
Como o stress pode afetar a mãe e o bebé?
É muito importante que as mulheres grávidas controlem o stress, pois o ambiente exterior da mãe provoca uma reação no seu interior, no seu corpo e mente, e o que está a acontecer com ela também pode ser passado para o seu bebé.
O bebé, no ventre da mãe, sente todas as suas experiências e reações como se fossem as suas próprias experiências. O bebé está a aprender a reconhecer o ambiente externo por meio dos sinais internos que a mãe lhe dá e é assim que se prepara para a vida fora do útero materno.
Sabemos que, na conceção, os programas genéticos do ADN do pai e da mãe são transmitidos para a primeira célula da criança, mas a ciência revela que, durante a gravidez, esses programas podem ser ativados, ou modificados, de acordo com a qualidade das experiências que a mãe vive, bem como a qualidade do ambiente em que se insere.
Investigadores da Universidade de Zurique descobriram que o stress pode influenciar o metabolismo da placenta e o crescimento do feto. Se a mãe estiver sob stress por um longo período de tempo, a concentração de hormonas do stress no líquido amniótico aumenta, tornando o líquido mais amargo e fazendo com o que o bebé beba menos quantidade. As hipóteses de ter um bebé com baixo peso aumentam, bem como a probabilidade de ter um bebé prematuro, ou um filho com problemas de saúde.
Entendemos, agora, que os bebés são muito mais sensíveis do que pensávamos e a responsabilidade de uma mãe estende-se para além do vínculo físico e move-se para a qualidade do que a sua mente vivencia, os seus pensamentos, emoções e até mesmo a sua visão do mundo exterior. As mães são as criadoras e a inspiração dos seus bebés.
O que pode fazer?
Quando pratica e cultiva uma maior harmonia e paz interior durante a gravidez, como numa aula de yoga para grávidas ao praticar uma respiração profunda e consciente, e partilha momentos relaxantes com o bebé, a mãe está a voltar-se para dentro de si mesma, a aumentar a sua consciência corporal e emocional, e a conectar-se profundamente com o seu bebé.
A mãe torna-se, assim, mais consciente das suas emoções e reações, podendo alterá-las e podendo transformar os seus comportamentos se necessário, ultrapassando momentos de tensão com mais tranquilidade e tomando melhores decisões para si e para o seu bebé.
Por sua vez, o bebé, que partilha estes momentos dentro da barriga da mãe, é mais capaz de se desenvolver harmoniosamente, usufruindo do reforço do equilíbrio, serenidade, energia, pensamento e emoções positivas da mãe para um melhor começo de vida.
Artigo originalmente publicado na quarta edição da Revista De Mãe para Mãe, em julho de 2020.